segunda-feira, 7 de março de 2011

PUBLICADA NO JORNAL NOVA ESPERANÇA - 5

A Palma da Mão

A tua mão tem outra dimensão… diferente da persuasão da vontade alheia. Na tua mão cabe… a tua vontade, a realidade, a ilusão, um sorriso, um recém nascido…
Percorres com o indicador o contorno do sol… escondes parte do brilho. Consegues esticar o braço e empurrar a vontade alheia para um beco com pouca saída. Todos necessitamos de uma saída, todos queremos que o tempo marque o compasso e siga sem perturbações a marcha. Os teus passos podem ser o guia… uma pegada atrás da outra será o trilho das gerações, que te carregarão para além dos dias que consegues alcançar com a tua visão. O acreditar depende de quem se ilumina, de quem procura compreender e acompanhar pegadas alheias e estranhas nos dias do presente. O futuro… certo… entrará no nosso quotidiano na perspectiva vislumbrada pelo entendimento de cada um.
Na palma da mão está o sentido de uma vida… uma dádiva… uma ajuda… um virar de página da caminhada.
Na palma da mão cabe o choro de um povo, cabe o sorriso de inocente e a revolta dum incompreendido.
O gatilho pode ser premido… revoltar o mundo… aliviar uma vontade e mergulhar alguém na escuridão de um acto irreversível. Pode projectar uma vontade benéfica, pode aligeirar uma controvérsia. Podes esconder o dedo que provoca tudo isto, por cobardia, por coragem ou por uma visão estranhamente estratégica, podes…sorrir também a um aceno!
Ao ver a palma da minha mão não sei o que vejo nem o que quero ver. Tenho receio de esconder tudo e também de tudo revelar. O equilíbrio é difícil e todo o esforço pode ser retido na palma da mão de um outro que me agarrou e constringiu, a executar uma vontade que me é alheia. Podes apertá-la sem que tenha percepção… a subtileza poderá afastar outros apertos ou esmiuçar aquilo que não me queres revelar… depende de que lado está a sensibilidade.
Na ponta dos dedos estão confidências, escondidas por vezes no empoeirado dos passos diários. Existem marcas constrangedoras, se encaradas por vergonha, existem referências agraciadoras, se interpretadas construtivamente integrantes dos elos faseados das vidas que se relacionam. São barómetros privilegiados no tactear da nossa vontade, que por muito caminho percorrido, sujeita a nossa certeza… a sentir nestas extremidades o local do próximo latejo.
A caneta com que escrevo as marcas da vida sustenta o querer estranho de expor as ideias ao distante olhar comum, que pode olhar a palma da mão e não encontrar o espelho comparativo, que lhe permita ver com clareza as imagens construídas com letras pelas pontas dos dedos e não o impulsione a acreditar que consigo traçar na folha de papel os finos traços da palma da minha mão, aberta sem preconceitos nem acervos… e me iluda de que os reflexos, por mim construídos, são por todos compreendidos.
Na palma da mão estão escondidas sombras, estarão sempre do lado da contra-luz. Por mais vezes que revir a mão, as sombras serão mais rápidas do que a vontade de as expor. O momento da sua revelação pertence-lhes. Não queiras forçá-las e estar num espaço iluminado, as sombras não precisam nem querem a luz directa. A sua mestria está em revelar a realidade iluminada através do seu jogo de mímica, que se entrelaça com os olhares expectantes dos mais atentos e se expande por onde quiseres, desde que lhe abras as portas da contraluz. O luar carrega uma infinidade de certezas, em que a realidade sabe que aí não será enganada, pois já todos por lá passaram e deixaram a sua sombra copiada.
Na palma da mão podes imaginar… o que podes criar!