Olhei para a
revolução do 25 de abril, um miúdo na data, a quem dão um presente e lhe dizem que só
poderia ser bom e só havia aquele para oferecer.
Durante vinte
e cinco anos olhei para a obra e julguei que a geração, minha progenitora,
poderia ter ido mais longe e que teria tido a oportunidade de proceder
proficuamente. Achei que o facto de os cravos simbolizarem o movimento que
arrastou massas se tinha tornado fraco. Por vezes substituí no meu imaginário
social o cravo pela rosa na magoada sensação de que uma gota de sangue picado
por um qualquer espinho acabaria por provocar o abanão final ao país.
Olhava o
horizonte na tentativa de encontrar um vislumbre iluminado. Deparei-me
constantemente com grilhões político-sociais de controlo confortante através dos
subsídios, de amarras contratuais que subtilmente nos demovem e afastam da
participação da vida sociopolítica do país e encarei-me com uma classe, feita,
política interveniente ineficazmente que olhou para a aceitação eleitoral, como
um objetivo superior, e permitiu esvair-se da clarividência corajosa e de ser
capaz previamente de tomar as decisões certas para encarrilhar o Estado na
linha onde as agulhas das receitas e das despesas se cruzariam e não chocavam.
O sete e o
quinze serão números ditantes de sortes diferentes. O sete será a sombra e o
calafrio deste país. Viriato Soromenho Marques poderá equivocar-se e não
estaremos a ver o fim da terceira república, a menos que o governo insista em
divorciar-se da população. No entanto, o primeiro-ministro alcançou a proeza de
unir os trabalhadores, os sindicatos e os patrões contra as suas medidas de
austeridade. O quinze é o mais importante. Representa o dia em que vislumbrei
as sementes dos cravos e esqueci os espinhos da rosa. As setas contorceram-se
em todas as direções e o mundo viu de que fibra é feita este povo. Entre
verdades e impropérios o pacifismo popular foi revoltoso. Mãos sensuais mas
fortes, sorrisos sedutores mas determinados, pés cansados mas firmes, vozes
ensurdecedoras mas conectadas num só sentido presentearam os gigantes
históricos que carregamos às costas e honráramos-lhe os sacrifícios na
construção e definição da fronteira daquilo que é ser português. É fazermo-nos
ouvir e defendermos o nosso retângulo sem projéteis. Aliando atitude a palavras,
juntas são uma grande arma em que a língua não é petróleo, é a força
persistente que acorda os dormentes e os coloca no combate à incompetência que
tem perpassado até ao quotidiano.
Nas palavras
de Eduardo Lourenço, é impressionante o
caracter pacifico que modificou a atualidade. Demonstrou ser necessário
resolver a crise dando um outro sentido de rumo ao país, à europa e se ainda
for possível ao mundo. O dia quinze como afirma Freitas do Amaral revela que as
manifestações não mudaram o país,
financeiramente, mas a classe política (re)tomou a perceção do país
interventivo. Terra e povo estão saturados de medidas erradas e desajustadas à
realidade nacional em que os governos se sucederam no esquecimento da
existência das pessoas (por si só) e estas têm observado as suas vidas serem
hipotecadas sob a batuta de um termo (troika)
estranho e estrangeiro, qual papão executor da vontade dos dinheiros capitais.
Quinze foi o
dia da voz portuguesa soberana que se fez ouvir e se afastou da passividade.