quarta-feira, 11 de julho de 2012

Contorno Perpetuo


Caminho na retaguarda do tempo. Conto as pedras soltas da praia exposta ao mar do norte na tentativa de encontrar o número par, que justifique a minha existência. Ambiciono fugir da tua loucura diária… de colocares tudo nos mesmos lugares de sempre, alinhado por épocas e momentos do menos para o mais importante, como se tudo fosse interligado pela medida ordenada.

Nada pode ficar fora do contorno estabelecido. Nada é uma parte de um todo e nem o teu todo é a súmula das nossas partes.

Mostro na palma da mão uma perspectiva possível do objecto que nos pode unir. É um laço que perpétua a relação e a mantém viva. Pouco vale… há engrenagens. Se virar a mão para te mostrar tudo isso irás ver que virada ao contrário simboliza aquilo que não procuras… pode transformar-se num desalento!

Alimento as energias com a vontade de ir mais além, numa tentativa…, quase frustrada, de saltar a margem e me tornar um persistente nesta sociedade com laivos de perdição individual.

Estes dedos que trauteiam a música que ouvimos juntos querem agarrar algo sólido, que seja possível transformar no futuro sobre a cristalização do passado. Que seja possível representar a fuga evolutiva de tudo o que somos e dos caminhos que tivemos de construir para aqui chegarmos. E olhamos o céu com intenção de lá encontrarmos o guia, de lá vermos o conforto dos exemplos já experimentados.

Sabemos as semelhanças que existem. Sabemos as possibilidades de marcar o presente com os pilares do futuro, no entanto olhamos o céu na esperança de lá vir a sair o escrutínio ideal capaz de nos substituir na reconstrução do futuro, que nossos pés irão pisar.

Fecho o punho. Escondo uma imagem que não conheço. Vasculho as memórias. Transporto-me psicoticamente neste vaivém de tentativas. Nada me é familiar. Nada me surge ordenado e tudo se atira a mim como inimigo do conforto das representações do quotidiano. Desmanchou-se o exército de terracota. Alguns pedaços de barro têm as arestas cortantes. Parece defenderem-se da mão grande sobranceira. Olho dentro deste cenário como um estranho que tropeçou nele e por nada se compromete com a reconstrução do trilho.

A linha longínqua que imagino ver no horizonte (de olhos fechados nada vejo e tudo posso criar) torna-se rapidamente na âncora do desejo frenético de sair a galope e sorrir.