sexta-feira, 3 de junho de 2011

Fora de Controlo

Sinto por vezes que estou fora do compasso. A batida do meu coração está desconexa com o ambiente que o rodeia. A arritmia perturba quem sente a vibração do fecha e abre das válvulas. Mesmo não demonstrando incomodar-me com a situação, é certo que não gostaria que ele deixasse de bater, logo agora que tenho tanta coisa enriquecedora à minha volta, talvez lá mais para a frente, talvez um dia… nem quero saber quando!

Olhar documentários na televisão portuguesa, por vezes carrega surpresas agradáveis, diria antes agridoce, pois o assunto é muito angustiante… viver treze anos agarrado à impossibilidade de se mover sozinho… treze anos sem receber uma visita… não creio que seja por vontade suprema, não creio que seja por outra vontade qualquer… creio que a própria vontade deixou de ter vontade de acreditar… envergonhou-se por não conseguir pensar mais que ainda é possível … viver.

Era giro e gratificante pedir, agora fica mais giro solicitar, que ergamos as mãos e do baixo altar em que nos colocamos e tenhamos a coragem de não acreditar que nós não temos mais força para acreditar, ou de aceitar que mesmo o infortúnio alheio é uma mais-valia para todos… sim, para todos que aceitamos o lado negro da vida como uma aprendizagem de futuro.

Sinto por vezes que o compasso sai fora de mim… empurra-me para um abismo sem igual. Força-me a acreditar na fraqueza, força-me a esvaziar-me da pouca energia que consigo armazenar para o dia seguinte.

Quem quer? Quem olha sem pestanejar?... uma imagem brutal provocada pela ira sem coragem para tentar outra coisa qualquer…  positiva… quem quer olhar?… olhar mesmo para a verdade da  faceta selvagem de pai desvairado que aniquila sem clemência… para consigo essencialmente.

As letras custam a fixar-se na folha, tenho repugna em colocá-las lá. Quero escrever sobre o lado sombrio do meu semelhante, sinto que tenho de o fazer… mas repugna-me.

Sinto a pancada da minha batida. Sinto a dilatação do meu peito, sinto o sangue quente a circular… e aqueles que foram forçados a deixar de sentir o seu calor? Fico magoado com o responsável.