sexta-feira, 29 de abril de 2011

Os Sonhos do Rosto

Vejo os sonhos do rosto traçados no espelho. A mão passa e consome a película de vapor. Tudo escureceu à minha volta. Os joelhos perderam forças. Deslizei sob as sombras dos desejos…

Sinto que existe uma causa que empurra e me obriga a permanecer numa posição sofrida.

Por vezes acreditamos conseguir erguer o menir… por vezes vemos escrito nos muros bolorentos do caminho traçado… algo surreal que afasta o jogo da existência humana para longe da sua essência.

Quero permanecer envolto nos braços que vislumbro, trémulos… A ansiedade aumenta a distância. As barreiras que colocamos por defesa provocam a morte do desejo que tem percorrido os dias.

Deste lado, vivo como se estivesse aí. Toco melodias com a chuva sobre o meu corpo. Permaneço inerte na esperança de me veres… de me sorrires e de me confortares uma última vez.

Espero à porta onde te encontras por uma derradeira palavra… um abraço. Algo perece e não consigo evitar.

 O meu coração tem uma fenda que só tu podes costurar com os pontos metálicos. Neste espelho toco o meu rosto imaginando ser o teu… tão semelhante… tão louco… alucinante… estonteante. Permaneço petrificado e aguardo. Por vezes acordo à porta da realidade desejando que a sensação de queimado percorra os tempos passados e me transporte aonde te encontras para poderes finalmente dizer tudo o que não conseguiste… tudo o que não foi… e não é por nada!

Há algo que sempre… há alguém perdedor. Espero com esse bilhete rasgado esperando ter coragem para o pulverizar sobre os teus passos como se fosse a dádiva circunscrita… a nós dois!