terça-feira, 7 de junho de 2011

As Cinzas dos Nossos passos

Marcamos passo. A batida vai quase morta. Percorre velhos caminhos, já pisados e marcados por pés mais velhos ainda. Quem disse que a caminhada dos antepassados é um peso? Nestas vidas frágeis olhamos o horizonte e acreditamos que a sua distância não tem alcance. Fazemos acreditar os nossos pares que não conseguimos dar um salto, pedimos para nos deixarem dar um saltinho, mais curto que a distância que vai de joelho ao tornozelo. Sorrimos… quando confirmamos ser dignos de saltar alto.

A água corre alta. Lá atrás disseram-nos que o próximo redemoinho pode ser fatal. Por malícia o sábio resumiu num tormento, a volta que a água dá a um pedregulho.

O tormento fere quando olhamos os raios de sol a misturarem-se na nossa martirizada existência e a colocarem um comportamento insignificante ás sombras por nós construídas. Agarramo-nos a elas como se fossem realidades missionárias da boa ventura, que impomos ao quotidiano.

Nem Sebastião… nem Sebastiãozinho cavalga no lusitano branco… não vem acudir como alguém disse que viria pela madrugada. Onde está o papiro rasurado, talvez corrigido… finalmente, colocando no trilho certo este desventurado pedaço de paraíso repleto de madressilvas e macieiras secas.

Secas e gretadas estão as palmas das mãos de tanto escavarem e de se elevarem ao céu agreste a agradecerem um punhado de nada oferecido por um imprudente e insignificante bem-falante. Do alto da tribuna indica o caminho para vermos o nevoeiro. Temos de encontrar o nevoeiro das suas ideias e afirmar ser imprescindível ver a manhã carregada de nevoeiro, que humedece a nossa roupa e entorpece as articulações.

Agarra-me nevoeiro! Esconde-me, quero fazer parte de ti e sentir o prazer de abraçar as idiotices pensadas para um dia de inverno.

Acolhe-me nevoeiro espesso, eleva-me sobre o horizonte e mostra-me a liderança firme e fiel às promessas, que nos sussurraram em tempos.

Sem cavalo branco nem manuscrito seremos audazes… soltaremos a fumaça da queimada das velhas cartas do rei para o plebeu… fertilizaremos o solo com as cinzas e alinharemos a nova pegada. O peito nu será agraciado pela luminosidade da primavera.

Os malmequeres quererão ser a passadeira para os teus famintos pés descalços!