domingo, 25 de dezembro de 2011

Publicada no Jornal Nova Esperança - 15

TELEVISÃO
As manifestações de curiosidade mostram-se de variadíssimos modos. Desde o inicio da humanidade que o homem tem procurado satisfazer as suas necessidades através dos recursos existentes. Quando são insuficientes ou mesmo incapazes de proporcionar-lhe o alcance desejado, recorre à sua criatividade e reinventa os utensílios e equipamentos as vezes necessárias até conseguir atingir a sua meta.

A imagem, rápido se tornou o ícone que melhor favorece o registo da pegada humana sobre o planeta. As pinturas rupestres são importantes para a interpretação e compreensão do que moveu o homem a fazer representações de grandes animais, da caça e de rituais de dança. Permite-nos a aproximação a estas sociedades primitivas que tinham um modo de vida muito diferente da atualidade. Hoje é-nos difícil viver sem um conjunto de equipamentos a que nos habituámos e que fazem parte do quotidiano. Falo de entre outros da televisão.

A análise do comportamento do homem durante a passagem do tempo obriga que consigamos contextualizar a sociedade mediante o seu desenvolvimento olhando também para os recursos que tinham à sua disponibilidade. Não sabemos em concreto como o homem ocupava o seu tempo total. Sabemos que não tinha janela virada para o outro lado do mundo nem a cores nem a preto e branco. Sabemos que a projeção de imagens e a televisão trouxeram uma outra velocidade ao conhecimento. A leitura como janela de descoberta do mundo e os contos de boca em boca deram lugar à imagem viva, rodada nas frames e posteriormente apresentada no pequeno ecrã com ou sem retoques de efeitos especiais.

Na memória ficaram pequenos momentos marcantes para uma geração. A parede da igreja matriz serviu algures nos anos cinquenta do século XX para receber a projeção de filmes. Dizem que o Halibaba e os seus quarenta ladrões saltaram dunas e fecharam portas através da parede da sacristia. Onde hoje jaz o café Marialva improvisava-se a plateia para assistirem num género de “Drive in” beirão a autênticas estreias cinematográficas impulsionadas por um clérigo de quem não souberam dizer-me o nome.

No circuito de desenvolvimento Adolfo Vieira de Brito contribuiu com o primeiro televisor. Este foi um grande acontecimento de viragem nos hábitos da população. Como disse, a curiosidade é intrínseca à condição humana. Rapidamente o televisor se tornou uma atração, que se espalhou pelas povoações em volta da Casa do Povo de São Pedro de Alva. Diz-se que o Bonanza tinha apoiantes nas suas cavalgadas, que sem grandes efeitos cinematográficos conseguiu espicaçar a mente dos mais novos. Muitos por necessidades básicas de sobrevivência, partiram também eles na sua cavalgada. Não tanto por terras americanas mas antes para terras dos desfeitos impérios europeus, necessitados de mão-de-obra e força de braços e para terras africanas sem necessidade de derrame de sangue inocente e desconhecedor da dura realidade dos trópicos, muito diferente de qualquer safari mostrados nos atuais canais generalistas de televisão.

A mudança resultou dos horários da emissão. Não era alargada a todo o dia no entanto conseguia mover a população. De tal modo que os trabalhos sazonais e de troca direta em que todos participavam nos trabalhos de todos num género de comunidade de trabalhos agrícolas foram relegados para segundo plano. No período em que a emissão estava no ar deixou de haver interesse nas descamisadas, filhoses com mel dadas pelo dono do milho e noutros atrativos gastronómicos. O convívio sofreu alterações. A alegria simbolizada hoje pelo rancho folclórico foi lentamente substituída pelas comédias mais ou menos sérias que saltavam do pequeno ecrã. A realidade dos beirões começou a ser confrontada com outras realidades existentes, desconhecidas em grande medida até ao momento, e que lhes eram apresentadas pela programação onde se incluía o serviço noticioso. A distância parecia muito maior do que hoje é e para tal contribuía também a dificuldade que era imposta pelas acessibilidades.

Continuando na linha do desenvolvimento os Café Neves e Marialva tiveram um papel importante na fases seguinte. Olhando para o seu interior percebia-se a que classe social pertenciam os seus clientes. Ambos, fechados atualmente, apresentaram novidades à população. A famosa bica era vendida e partilhava o seu espaço com o velho copo de 2 ou 3 tirado da pipa de carvalho atrás do balcão. Ainda não existia a ASEA, não que queira dizer que a higiene não estava de acordo com requisitos de um estabelecimento comercial mas antes, que os hábitos de comércio eram diferentes e as regras eram outras.

A televisão estava presente nos dois estabelecimentos. Foram colocadas numa posição sobranceira às cabeças das pessoas sentadas e desejosas de que começasse a sua série preferida. Recordo-me, nos anos oitenta dos Três Duques, do Dallas, etc. Por vezes não havia unanimidade no canal, mesmo quando só eram dois mas o que importa é que a caixinha já fazia parte de todos.

O que começou por ser uma unidade é hoje uma quantidade diferente em cada habitação. Pode haver uma só ou várias espalhadas pelas diferentes assoalhadas. Neste contexto um ponto importante é fazer referência à TDT (televisão digital terrestre). O amadurecimento da tecnologia chegou a um estádio em que todos somos afetados. O velho sistema analógico de difusão vai ser substituído pela difusão digital e quem quiser continuar a ver os seus programas preferidos terá de acompanhar o desenvolvimento da caixinha. Se não tem televisão a pagar seja por cabo ou por satélite terá de efectuar as alterações convenientes e que podem passar pela compra de equipamentos que façam a descodificação para os aparelhos de televisão que cada um possua em casa e que não tenham vindo de fábrica preparados para a TDT.