segunda-feira, 4 de abril de 2011

PUBLICADA NO JORNAL NOVA ESPERANÇA - 8

Um Olhar que Não Podes Agarrar 
Uma imagem… é muito mais do que o simples esboço que registamos sobre um rosto triste ou num sorriso, num olhar que nos fixou e guardámos secretamente. É aquela imagem que reservo e em que acredito ser do conhecimento de todos, mesmo sabendo que não a expus a ninguém… por timidez pura. Não compreendo hoje, se acreditei ser amor ou se queria muito que assim fosse.
Arranco uma a uma como se fossem folhas do meu bloco de notas e não encontro a imagem que agora queria mostrar ao mundo. Não sei o que me deu para a guardar tão bem guardada que agora, neste momento da minha vida, tinha coragem para a colocar à luz do dia e não sei onde está escondida.
 Estou frustrado. De que me serviu tanto secretismo se nem a mim ela se permite descobrir.
Sigo muito lento no compasso.
Altamente é a palavra que me vem à cabeça, com a última letra a soltar-se do resto da palavra. A virgem Maria nas suas melhores vertentes, será melhor…  perspectiva de passado, presente e futurista. Quantas Marias serão ainda futuristas? Tu, artista do traço farás de José e eu sorrio para a cópia do original porque esse tens tu em tua posse. Tenho uma imagem de tudo isto… fresquinha na minha frente. Não é uma imagem qualquer, é movida por energias passadas, sabemos nós intervenientes como atrás da realidade, os mais velhos queriam e não aceitámos. Somos menos, simplesmente alguns partilhámos as mesmas ideias, construímos as imagens semelhantes e, aquela que te queria mostrar, parece que está feita em mil pedacinhos, que tento juntar e tapar os rasgos com fita transparente. Hei-de voltar a recriar o contexto da tua virgem Maria e da minha mão estendida, agora plena de esperança, quando o tempo é muito menos, mas mais enriquecedor.
Onde raio está o resto da imagem? Alguém consegue ajudar? Consegues tu Anjo ASO? Foste tu que levaste parte da imagem, meu… eloquente, nosso companheiro daquele sorriso fixado no reflexo da janela do teu quarto, molhada pela chuva matinal do nevoeiro espesso, que ainda detesto porque nada vejo para lá dele.
Estamos orientados na manutenção das tuas gargalhadas, que só os mais chegados ouviam, só os mais circunscritos partilharam. Não me ocorre nada, excepto o tiritar do teu assobio, vadio nos momentos mais pesados como se fosse o chamamento na hora certa, que nos resgatava da melancolia adolescente e nos transportava para lado nenhum, simplesmente era extremamente gratificante ouvi-lo.
Falta-me um pedacinho da imagem… nem a mão do artista conseguirá repor as linhas, nada aritméticas, da realidade tão longínqua e tão presente. Tão fria e tão calorosa no vaguear pelo emaranhado dos destinos. Tão colorida e tão cinzenta.
Tão viva e tão morta. Tão morta, mas tão viva. Tão perturbador que isto parece, mas tão esclarecido e reconfortante saber que é um anjo, que guarda o pedacinho da imagem!

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